Salmos Imprecatórios: Entenda seu significado e a visão de Jesus
Estudo sobre os Salmos Imprecatórios. Entenda o significado de clamar por juízo e qual é a ética de Jesus sobre este tema. Aprenda como entregar a vingança a Deus.
TIPOS DE SALMOS
Daniel Corrêa
12/17/20258 min ler


1. INTRODUÇÃO
O Livro de Salmos contém a plena experiência humana de fé, incluindo um grupo que, à primeira vista, parece dissonante: os Salmos Imprecatórios. Estes são cânticos nos quais o salmista clama para que Deus intervenha com juízo e retribuição contra inimigos, opressores e aqueles que praticam o mal persistente.
Esses salmos são o clamor da alma ferida, revelando:
O sofrimento real diante da injustiça humana.
A confiança de que Deus é o Juiz supremo e que o mal não ficará impune.
Embora a linguagem possa parecer dura, o ato de imprecar é um ato de fé: o salmista entrega a vingança a Deus, recusando-se a tomá-la com as próprias mãos.
2. SIGNIFICADO DE IMPRECATÓRIO
A palavra imprecatório vem de “imprecação”, que significa invocar juízo ou maldição. No contexto bíblico, isso é um pedido para que Deus atue como justo juiz.
O que deve ser ressaltado aqui é que os salmos imprecatórios são orações. Veja o vídeo curto (menos de 3 min.) abaixo do palestrante Franklin Ferreira sobre os salmos imprecatórios.
3. AS MARCAS PRINCIPAIS
Clamor por Justiça, não Vingança Pessoal: O salmista reconhece a soberania de Deus sobre a justiça (Juízo Divino).
Dor e Sofrimento Real: Os salmos nascem de experiências profundas de traição, perseguição e violência (Ex: Salmo 109).
Apelo ao Caráter de Deus: O pedido de juízo não é baseado em ódio, mas na santidade, justiça e retidão de Deus, que se opõe ao mal.
Entrega da Vingança: Eles antecipam a afirmação de Romanos 12:19: "A mim pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor."
Eles não são orações precipitadas, mas sim orações devidamente escritas com boa consciência. Isso significa que estes salmos não são um mero desabafo; mas sim, poesias que promovem uma mensagem sobre como lidamos com a ira dentro de nós.
Uso de hipérboles: deve-se ter em mente que as expressões imprecatórias tem essência poética e muitas delas não tem um cumprimento histórico conforme suas narrativas.
O salmo 137.8,9, por exemplo, quando fala de pegar os filhos dos babilônicos e esmagá-los contra pedra; tem como cumprimento histórico a invasão persa mediante o imperador Ciro. Logo, as expressões fortes não possuem um caráter exato mas sim poéticos.
Aversão ao pecado: estes salmos e outras passagens bíblicas essencialmente amaldiçoa o pecado e a malignidade. Quando o homem é condenado, é porque o castigo do pecado envolve o agente que o constituiu.
4. EXEMPLOS
Salmo 7
Este salmo clama pela justiça divina, onde o salmista suplica: "Persiga o inimigo e o alcance, esmague-lhe a vida no chão e arraste a sua honra no pó!" A maldição é um pedido direto para que o mal planejado pelos adversários caia sobre suas próprias cabeças. O desejo de vingança aqui é retributivo, buscando que a iniquidade do inimigo o destrua de forma total e humilhante.
Salmo 12
Embora seja um lamento contra a falsidade e a lisonja dos homens, o desejo de juízo é evidente contra aqueles que usam a língua para oprimir. O salmista roga por uma intervenção imediata, pedindo que "o Senhor corte os lábios lisonjeiros e a língua arrogante" dos mentirosos. O foco da maldição está na eliminação da fonte da opressão: a fala perversa e enganadora que corrompe a sociedade.
Salmo 35
Este é um dos mais intensos Salmos de guerra. O salmista implora por aniquilação total dos seus inimigos: "Sejam confundidos e envergonhados os que tramam contra mim." As expressões de vingança são gráficas, pedindo que o caminho deles seja escuro e escorregadio, que "a destruição lhes sobrevenha de surpresa" e que sejam varridos pela perseguição divina.
Salmo 58
Aqui a indignação se volta contra juízes injustos, denunciando a malícia intrínseca deles. O salmo expõe um desejo violento de destruição biológica e abrupta dos ímpios, pedindo que "se lhes quebrem os dentes na boca" e que "se desfaçam como água que escorre". A maldição mais forte é o desejo de que sejam eliminados ainda jovens, "como lesmas que se derretem", e que jamais vejam o sol.
Salmo 59
Em meio ao cerco de inimigos sedentos por sangue, o salmista pede a Deus para que não demonstre misericórdia. O desejo de vingança é que os adversários sejam errantes e caídos por causa da sua arrogância. A maldição é prolongada: "Extermina-os na tua ira, extermina-os, para que não existam mais," fazendo de sua destruição um exemplo eterno da justiça divina.
Salmo 69
O salmista, em profundo sofrimento, deseja que a opulência dos seus opressores se torne sua ruína. As imprecações são diretas: "Escureçam-se-lhes os olhos para que não vejam; e faze cambalear os seus lombos continuamente." O desejo de vingança alcança a família e o lar, pedindo que o seu lugar se torne deserto e que ninguém habite em suas tendas.
Salmo 70
Este é um grito urgente de socorro que se concentra na humilhação pública dos inimigos. O desejo de maldição é sucinto e direto, com o salmista pedindo: "Sejam envergonhados e confundidos os que procuram a minha vida; voltem atrás e envergonhem-se os que se alegram com o meu mal." A vingança é vista como a inversão imediata e pública do triunfo dos adversários.
Salmo 83
O foco aqui é nas nações que conspiram contra o povo de Deus. A maldição é um pedido para que essas nações sejam aniquiladas e sirvam de exemplo. O salmista roga: "Faze-lhes o que fizeste a Midiã... Faz com que sejam como o restolho diante do vento." O desejo de vingança final é a total extinção da identidade dos inimigos, transformando-os em "rodas" e "palha" levada pelo vento.
Salmo 109
Este é talvez o mais severo dos Salmos Imprecatórios, com maldições estendidas à família e descendência do inimigo. O salmista pede que "os seus dias sejam poucos, e que outro tome o seu ofício." A vingança é total e destrutiva, desejando que seus filhos fiquem órfãos, sua esposa viúva, e que sua descendência seja totalmente exterminada e mendigue.
Salmo 137
Embora seja um lamento pelo exílio na Babilônia, contém uma imprecação final chocante e memorável contra Edom e Babilônia. A maldição é direta e violenta contra os opressores: "Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a rocha!" Este é um desejo brutal de vingança retributiva que ecoa a crueldade sofrida pelos exilados.
Salmo 140
O salmista busca proteção contra homens maus cuja língua é uma arma mortal. A maldição é um desejo de que a violência retorne contra os próprios agressores. Ele suplica: "Caiam sobre eles brasas vivas; sejam lançados no fogo, em covas profundas, para que não se levantem." A vingança é o aprisionamento eterno e destrutivo dos ímpios pela intervenção divina.
5. IMPRECAÇÃO E O NOVO TESTAMENTO
Essa é a questão central: Cristãos podem orar por juízo contra inimigos? A resposta bíblica, à luz da revelação completa em Cristo, é NÃO.
5.1. O Ensino Radical de Jesus
Jesus estabeleceu uma nova ética baseada no amor sacrificial, superando a lei do Talião (olho por olho):
Mandamento Superior: "Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem." (Mateus 5:44).
Exemplo na Cruz: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." (Lucas 23:34).
5.2. A Prática Apostólica
Os apóstolos reforçaram que o cristão não deve retaliar:
Paulo (Romanos 12:14): "Abençoai os que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis." E "vence o mal com o bem." (Romanos 12:21).
Conclusão Teológica: Os salmistas clamavam por justiça, entregando a vingança a Deus; os cristãos hoje devem responder com amor ativo e bênção, confiando que Deus — e não o homem — fará justiça em Seu tempo.
6. Valor Espiritual Hoje
Ao longos dos anos do cristianismo. Muitos teólogos, inclusive os liberiais, condenaram os salmos imprecatórios, afirmando que eles se opõe ao tom do Novo Testamento de amar o próximo e até os inimigos.
Outros afirmam que a linguagem dos salmos imprecatórios não são uteis hoje por ser algo do tempo do Velho Testamento. No entanto, em um mundo onde a injustiça parece triunfar, esses salmos revelam a sede de justiça que reverbera dentro dos corações dos santos.
Ler estes salmos, ajudam de alguma forma a tratar o nosso coração, compreendendo o que não devemos fazer e qual é a postura ideal. Veja a seguir ensinos que eles proporcionam para nós:
Confortam: Lembram que Deus vê, se importa e que o mal não permanecerá impune.
Canalizam a Dor: Ajudam a expressar a ira e a dor de forma honesta, entregando-a a Deus, e não desabafando sobre o próximo.
Previnem a Vingança Pessoal: Reafirmam que a retribuição pertence unicamente a Deus, livrando o crente da necessidade de revidar.
7. USO NA VIDA DEVOCIONAL
A relevância devocional desses salmos é a de purificar o coração e reafirmar a fé no Juiz dos vivos e dos mortos.
Entrega de Mágoas: Use o salmo para dar nome à sua dor e entregá-la a Deus, esvaziando a necessidade de ódio.
Oração Contra o Mal (Sistema): Ore contra o mal, a injustiça e a opressão em termos conceituais (o sistema), mas nunca contra as pessoas.
Confiança: Use-os para lembrar que Deus é justo e para deixar a vingança em Suas mãos, liberando-se da amargura.
Podemos orar: "Senhor, faz a Tua justiça — e cura o meu coração para que eu possa perdoar."
8. CONCLUSÃO
Os Salmos Imprecatórios nos conduzem ao caminho da libertação espiritual. Eles revelam a dor humana, mas apontam para a maturidade em Cristo.
Nós aprendemos a viver como Jesus viveu: perdoando, abençoando e amando. E ao entregar a vingança ao Juiz Supremo, encontramos verdadeira paz e liberdade.
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6. RECAPITULAÇÃO
O que significa a palavra "imprecatório"?
Significa "invocar juízo ou maldição". Nos Salmos, é um ato de fé onde o salmista invoca Deus para ser o Juiz justo contra seus opressores, em vez de buscar vingança pessoal.
Cristãos podem usar os Salmos Imprecatórios para amaldiçoar inimigos?
Não. O Novo Testamento, por meio de Jesus (Mateus 5:44) e dos apóstolos (Romanos 12:14), ensina que o cristão deve abençoar, orar e amar os inimigos, vencendo o mal com o bem.
Por que esses salmos ainda são válidos?
Eles são válidos porque: 1) Expressam a dor humana real diante da injustiça; 2) Afirmam a justiça e a santidade inegáveis de Deus; e 3) Ensinam o crente a entregar a mágoa e o desejo de vingança a Deus.
Qual a lição principal para a vida devocional?
A lição principal é confiar que a justiça pertence a Deus. Devemos amar e perdoar o próximo, mas confiar que a retribuição do mal será feita pelas mãos de Deus, no tempo dEle.
